Prevenção
Sobre a Profilaxia Pós-Exposição
Se antes a Aids e o HIV eram sinônimos de atestado de óbito, agora a infecção pode ser prevenida e possui até tratamento no caso de suspeita de exposição. Conhecida popularmente como “a pílula do dia seguinte para Aids”, a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) diminui significativamente as chances de contrair o vírus.
Profilaxia Pós-Exposição (PEP)
A profilaxia pós-exposição, conhecida pela sigla em inglês PEP (post-exposure prophylaxis), refere-se a medicamentos antirretrovirais tomados após exposição ou possível exposição ao HIV. A exposição pode ser ocupacional (ex.: punção por uma agulha) ou não ocupacional (ex.: uma relação sexual sem preservativo com um parceiro soropositivo). A PEP deve ser tomada em até 72 horas da exposição ao HIV e durante 28 dias consecutivos.
(Guia de Termologia do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS - Unaids)
Disponível gratuitamente pelo SUS, a PEP é um tratamento que deve começar em até 72 horas após a suspeita de infecção pelo HIV. Para que o método seja eficaz, é necessário tomar os medicamentos diariamente durante quatro semanas. “O ideal é que inicie a profilaxia o mais cedo possível, de preferência nas primeiras 24 horas”, aconselha o infectologista Anastácio Queiroz.
O Painel de monitoramento da PEP, realizado pelo Ministério da Saúde, aponta que entre 2009 e setembro de 2019, 12 mil pessoas realizaram o tratamento no Ceará. Os números mostram que os motivos para iniciar o recurso são: sexo com consentimento sem camisinha, acidente ocupacional e violência sexual.
A tatuadora Júlia Muniz, 21, tomou a PEP após um acidente de trabalho. Picada pela mesma agulha que tatuava uma cliente, ela não soube como reagir após o risco de contágio. “Nem eu e nem ninguém que estava comigo soube o que fazer. Então percebi que eu e todos os tatuadores estávamos despreparados para lidar com a situação”, relata. Ela só procurou um hospital após ser aconselhada pelo tio que é médico.
A tatuadora Júlia Muniz em seu ambiente de trabalho. Arquivo pessoal.
Segundo o Painel PEP, até 2016 os acidentes como o de Júlia eram as principais causas do uso da PEP no Ceará. Hoje, no entanto, o sexo desprotegido é a principal razão para a adesão do tratamento, representando 62% dos casos. Os acidentes ocupacionais ocupam o segundo lugar com 33%, seguido de violência sexual com 4%.
O tratamento causou fortes reações alérgicas na tatuadora. Durante todo o período ela teve náuseas, vômitos e sensação de fraqueza. “Em um único dia eu cheguei a perder um quilo de tanto vomitar”, relembra Júlia. Por causa dos efeitos colaterais, é recomendado que a PEP não seja de uso recorrente.
Sobre a Profilaxia Pré-Exposição
Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)
A profilaxia pré-exposição, conhecida pela sigla em inglês PrEP (pre-exposure prophylaxis) refere-se a medicamentos antirretrovirais prescritos antes da exposição (ou possível exposição) ao HIV. Vários estudos têm demonstrado que uma dose oral diária de medicamentos antirretrovirais apropriados reduz o risco de contrair o HIV tanto em homens quanto em mulheres. (Guia de Termologia do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS - Unaids)
A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é um método preventivo para o risco de contaminação pelo vírus do HIV através de relação sexual. Ofertada gratuitamente pelo Ministério da Saúde, a PrEP não está disponível para todos. Para solicitá-la é preciso estar inserido na população vulnerável determinada pelo Ministério da Saúde.
Quem pode solicitar a PrEP
A combinação dos medicamentos tenofovir e truvada bloqueia os percursos que o HIV usa para infectar o organismo. Os remédios impedem que o vírus se instale e se espalhe no organismo. Porém, o Ministério da Saúde adverte que a PrEP só é eficaz se for tomada diariamente e que ela não abona o uso de camisinha já que não previne outras infecções sexualmente transmissíveis.
A partir do momento que um indivíduo usa uma medicação para prevenir o HIV mas não usa preservativo, ele está se expondo e expondo outras pessoas a outras IST's [Infecções Sexualmente Transmissíveis]”, alerta o médico Anastácio Queiroz.
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gays
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homens que fazem sexo com homens
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transgêneros
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trabalhadores do sexo
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pessoas que não usam camisinha com frequência em relações sexuais
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casais sorodiscordantes que fazem sexo sem o uso de preservativo
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quem repete o tratamento PEP constantemente
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pessoas que têm quadro de repetição de Infecção Sexual
Ao iniciar a PrEP o paciente recebe acompanhamento médico a cada três meses. Para Anastácio Queiroz, o intervalo entre uma consulta e outra é um ponto negativo do tratamento. “Ao avaliar uma pessoa a cada três meses, [no retorno] aquele indivíduo pode estar numa fase já contaminada”, explica.
Segundo o Painel de Monitoramento da PrEP do Ministério da Saúde, atualmente 9.211 brasileiros aderiram ao método preventivo. Disponibilizada em janeiro de 2018, a profilaxia chegou a ter 13.682 pacientes. Mas cerca de um em cada três descontinuaram o uso dos medicamentos, a maioria por não retornarem às consultas.
No Ceará, 387 pacientes fazem uso da Profilaxia Pré-Exposição. Entre 2018 e 2019, 534 pessoas aderiram ao tratamento, mas 28% descontinuaram. O principal motivo apontado também é a falta de retorno às consultas.
O painel mostra os usuários da PrEP no estado. São eles: gays e homens que fazem sexo com homens (68,22%), mulheres cis (19,64%), homens héteros cis (10,85%), mulheres trans (1,03%) e travestis (0,26%).
Identidade de gênero se refere à experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo tanto o senso pessoal do corpo—que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros— quanto outras expressões de gênero, inclusive vestimentas e modo de falar. (Guia de Termologia do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS - Unaids)
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Cisgênero/Pessoa Cis: Descreve pessoas cuja identidade de gênero coincidem com o sexo atribuído no nascimento.
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Transgênero/Transexual/Pessoa Trans: Transgênero é um termo "guarda-chuva" para descrever pessoas cuja identidade de gênero é diferente do sexo atribuído no nascimento. Também incluem indivíduos que receberam cirurgia de redesignação de gênero, indivíduos que receberam intervenções médicas relacionadas ao gênero que não a cirurgia (ex.: hormonioterapia) e indivíduos que se identificam como não tendo qualquer gênero, gêneros múltiplos ou gêneros alternativos.
O Ceará possui 16 Unidades de Saúde que ofertam a PrEP e acompanham os pacientes em uso. Veja no Mapa os pontos de distribuição
Mesmo a PrEP sendo recomendada pelo Ministério da Saúde, Anastácio Queiroz tem receio ao modo que o tratamento será seguido pelos pacientes. “Se o indivíduo deixa de tomar [os comprimidos], ele está exposto à infecção”, garante. Os dados confirmam a preocupação do médico: segundo o Painel de Monitoramento, 20% das pessoas em tratamento pela PrEP no estado não tomaram os medicamentos todos os dias, como é aconselhado.
Para o infectologista, o preservativo ainda é o melhor método preventivo. Acompanhe o que ele fala sobre os riscos do mal uso da PrEP no vídeo a seguir.
O infectologista Anastácio Queiroz esclarece a diferença, os efeitos colaterais e os cuidados necessários ao realizar os tratamentos de PEP e PrEP.
Podcast - Educação Sexual é pra quê?
O tratamento da Aids e HIV pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é exemplo mundial de política de saúde pública positiva. Disponibilizar tratamento gratuito para todas as pessoas que vivem com Aids e HIV em um país tão grande como o nosso é um projeto ambicioso que poucos países no mundo conseguiram - ou tiveram coragem de - aderir.
O resultado é que de acordo com o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2017, os números de detecções da Aids diminuíram em 15,7% no país. No entanto, a mesma pesquisa aponta que a taxa de detecções entre jovens entre 15 e 25 anos quase triplicou. Como isso aconteceu no país com uma das melhores políticas de tratamento contra Aids e HIV do mundo? No que estamos errando?
Para debater sobre o assunto, convidamos membros da Liga Acadêmica de Gênero e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Unifor (Lagist Unifor): Yasmin Aragão e Dhâmaris Amarante, do curso de Psicologia, e Marina Morena, do curso de Enfermagem.